Título: O Principezinho
Autor: Antoine de Saint-Exupéry
✪✪✪✪✪(5 estrelas)
Opinião elaborada no "GoodReads":
Praticamente 6 anos após ter lido este livro pela primeira vez, uma vez que pertencia ao plano nacional de leitura e porque toda a gente falava do mesmo, principalmente as professoras de Português, aqui estou eu, de novo, envolto de um sentimento extraordinário de repulsa por mim próprio pelas 3 estrelinhas que dei ao livro na última review que fiz do mesmo.
Permitam-me partilhar de novo o que escrevi na última review e por favor riam-se comigo: "I like this book but It's not my favourite !
I give 3 planets to "The Little Prince" !" que é como quem diz... que livro mais sem sentido e que me passou completamente ao lado. Até mereceu um comentário em Inglês mal escrito.
Importante ressaltar um comentário que recebi no momento em que escrevi isto. Foi um utilizador chamado José, o qual admiro bastante por me ter incutido o gosto por José Luis Peixoto mesmo sem mesmo saber disso. Escrevia-me ele em jeito altivo:
"Preposterous, kind sir! O Principezinho é uma lição de vida enorme, de bondade e da virtude da inocência, demonstrada brilhantemente. :) IMO ". Prepostero.... prepostero era aquilo que eu escrevia. Na altura ignorei o comentário, ou melhor, li-o sem paciência para o interpretar. Eis que 6 anos depois, caríssimo José, acho o meu eu 6 anos mais novo prespostero.
"O principezinho" é um livro lido levianamente na infância, com algum pesar na transição da adolescência para a fase adulta e acredito que abale quem o leia com os seus mais de 30 anos.
O que me levou a reler este livro?
Ora bem, foi um desafio de um grupo ao qual pertenço em que somos convidados a ler um livro que tenha feito parte da nossa infância. Escolhi este como um sinal de sensatez depois de reler aquele tal comentário supracitado e eis que...
Foi ao ler a última página desta obra intemporal que percebi que queria muito mais. Queria ler mais sobre os podres deste planeta e até enquadrá-lo a mim enquanto ser imperfeito.
Decidi fazer um extra, tentar imaginar o que motivara Exupéry a escrever "O Principezinho". Vim a descobrir que este se trata do seu último livro, foi escrito no período da 2ª Guerra Mundial, um dos 3 que escreveu em tal período. Talvez motivado pela desgraça vil que se passara naquele período, onde tantos partiram na vontade desmedida de salvar aqueles que eram os seus, aos quais "ficaram presos", denote-se que estou aqui a utilizar termos do próprio livro, pela dolorífica época onde perdera amigos que criara e pelo facto de ter sido proibido de pilotar, acabou por sentir necessidade de se expressar de alguma forma. Metaforicamente esta viagem de planeta em planeta é uma viagem pelos defeitos humanos e pela crueldade dos adultos. Falo dos adultos, "pessoas grandes", pois o extremo negativo é reforçado por e para esse grupo. A bondade e salvação está destinada às crianças... talvez na ideia de serem o futuro. Mas isto já sou eu e as minhas manias de decifrar mais do que por vezes o livro tem... mesmo sabendo que não há limites para as nossas interpretações para um história.
Sobre a história, alerto ao início da fase spoiler:
Nos primeiros capítulos, viajamos para um relato de uma criança cujo crescimento do seu conhecimento do mundo e a forma como o perspectiva é totalmente diferente dos adultos, os quais o tornam simplório e banal. "As pessoas grandes" facilitam o mundo desprovendo-o de grandes interpretações. A imaginação é menosprezada sendo cambiada pela absorção dos assuntos que perecem com uma comum vida terrena. Esta crítica e visão é expressada com recurso à apologia ao desenho da "jibóia que comera um elefante", "jibóia aberta" e "jibóia fechada" para a criança e "um chapéu de quem ninguém tem medo" para as pessoas grandes. A criança que assiste ao desprezo endereçado à sua criação refere que não há alternativa senão adaptar-se ao discurso adulto, onde predominam temas como golfe, política e de gravatas.
Somos posteriormente transportados para um deserto, onde sozinho esta criança, agora adulta, se vê numa situação de risco. O avião avariara e tinha pouco mais do que 8 dias para se desembaraçar do problema. Caso contrário morreria à sede. Ora, é longe de tudo, "a mil e uma milhas de qualquer lugar habitado" que se vai descobrindo e construindo a si próprio. É neste contexto que entra em cena o "principezinho". O principezinho que surge na representação de uma criança insistente, perspicaz e audaz. Este surge de um planeta extremamente pequeno onde era impossível alguém se perder.
Há então uma bela narrativa, de uma beleza poética onde o "principezinho" vai contando as suas aventuras e o vai trocando palavras com o atrapalhado aviador. É aqui que se introduzem as mais belas metáforas e os mais belos eufemismos de crítica à atrocidade dos
humanos, mais precisamente onde ela predomina: "nas pessoas grandes".
Vemos contada a história do cientista que apresentou um asteróide num Congresso Internacional de Astronomia e que pelos seus trajes foi descredibilizado, mas que quando se vestiu à europeia, toda a gente o aceitou. "As pessoas grandes são assim".
Continuamos ainda a propósito do asteróide de onde o "principezinho" poderia ter vindo, com uma constatação, não tão crítica, mas que achei imensa piada, pois enquadro-me nela. A forma como os adultos se predem aos números. Há uma capacidade enorme de deixarmos escapar características tão simples como gostos ou pratos favoritos, mas os números... esses decoramos com facilidade ou pelo exigimos com mais facilidade.
A partir do capítulo V há um alerta para a importância de proteger o planeta com a analogia aos embondeiros. Os embondeiros servem também de metáfora do mal. "Se só se reparar num embondeiro quando ele já for bastante grande, nunca mais ninguém se vê livre dele". O mesmo acontece com os conflitos, com os obstáculos, com o mal... se não são quebrados/corrigidos/postos de parte a tempo, resultam numa irremediável consequência.
Neste ponto de situação começa a viagem propriamente dita do principezinho pelos planetas próximos do seu pequenino lugar. Vemos abordada ainda a história de uma preocupação constante com a sua vaidosa flor, de uma beleza incontornável e única. Para o principezinho aquela flor era única no universo. Essas também tinham sido as palavras proferidas pela mesma, neste livro personificada. Era mentira. "Devia tê-la avaliado não pelas suas palavras, mas pelos seus atos".
Viaja o principezinho por um planeta onde só existe um rei. "O mundo encontra-se extremamente simplificado" - o rei manda e os súbditos obedecem. Inicialmente maravilhado, acabou a classificar aquela pessoa grande como "muito esquisito".
No segundo planeta vivia um vaidoso. Aqui é relatado o narcisismo e umbiguismo daqueles que são incapazes de verem mais do que a si mesmos. "Muitíssimo esquisitas as pessoas grandes". São ainda abordados temas como a dependência, o menos pesado dos capítulos, dá para dar uma risada; A ambição, materialismo e superioridade/abuso de cargo.
Chega então um planeta onde há um homem acendedor de candeeiros. O mais honesto e humilde até então. "Pelo menos interessa-se por alguma coisa para além de si próprio."
Finalmente chegamos à Terra. Importante referir que em cada planeta anteriormente referido, (excetuando o do acendedor de candeeiros - onde está presente uma qualidade),apenas existia um defeito... mas "A Terra não é um planeta qualquer". Aqui há 111 reis, 7 mil geógrafos, 900 mil homens de negócios, 7 milhões de bêbados, 11 milhões de vaidosos e um exército de 472 511 acendedores de candeeiros. Vemos aqui incorporada a ideia que apesar de todo o mal, há uma parte boa - temos uma parcela elaborada com um número todo ele escrito, até porque nós gostamos é de números, de acendedores de candeeiros. Não me passou despercebida a
intenção. Que pena que se trata apenas de ironia e sarcasmo... "uma brincadeira"... não existem assim tantos acendedores de candeeiros (não é tão expressiva a parte boa). Bem jogado, Antoine !
Eis que somos dirigidos para a história ternurenta entre a raposa e o principezinho onde é abordado o valor da amizade. "O essencial à vida é invisível aos olhos." Após ter visto um jardim com mais de cinco mil flores iguais à que tinha no seu pequeno planeta, ficou triste, servindo esta grande citação de sustento e de recomposição emocional. Descobre então o valor que aquela flor tem na sua vida.
Sente pena de a ter abandonado. Não sendo única não deixa de ser valiosa, pois está "pegado a ela"... ela cativou-o! É tão importante criar laços e aproximarmo-nos das pessoas. "As pessoas grandes não reconhecem esse valor!". As relações que se estabelecem no quotidiano são relações profissionais. Relações de cânone de ocasião. Há aqui um alerta para mudar esse panorama. Emocionei-me ao ler este capítulo. Que bom é ter amigos!
A instância supracitada encaminha ao desfecho da história, no mais belo que ela nos podia alguma vez oferecer, quase catártica. O aviador agarrou-se àquele principezinho e entendeu isso. Por vezes basta olhar com o coração para resolvermos os nossos problemas.
Este livro terá todo o sentido para ser lido em cada uma das três posições: enquanto "principezinho" - criança; enquanto aviador - a transição (quando ainda estamos prontos a mudar); ou enquanto o narrador... o adulto, aquele que já pensa no seu passado enquanto olha para as estrelas.
Por vezes só precisamos de um foco!
Impossível não oferecer 5 estrelas!
"Navegar é preciso, reconhecer o valor das coisas e das pessoas, é mais preciso ainda!" .
É tão bonito ver que pessoas com tantas doenças não se inibem de cultivar a mente! Os meus parabéns.
ResponderEliminar