Título: Ensaio sobre a Cegueira
Autor: José Saramago
Editora: Caminho
Páginas: 312
✪✪✪✪✪ (5 estrelas)
A missão de Saramago era a seguinte: "Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso." - tenho que lhe felicitar pois conseguiu tudo isso e ainda mais.
“Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem” - São as palavras da "mulher do médico" no final da obra.
Não me lembro de ter lido tanto em tão pouco tempo. Um livro muito pesado, aterrorizante e que atinge o clímax no momento em que as vítimas do "mal-branco" são encaminhados para a quarentena. Com uma linguagem forte, ousada, muito descritiva e bem ao seu estilo, Saramago pretende ser uma "voz da consciência". Pensemos sobre o livro e adaptemo-lo para a nossa vida. "Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara" - Sem demagogias, mostra como somos todos iguais em matéria, como somos suscetíveis, frágeis e responsáveis pelos nossos atos. Aborda a verdadeira cegueira social que ainda hoje nos acompanha! No momento em que todos estejamos na mesma situação e aflição (no caso deste livro - no momento em que todos estamos cegos) é necessária cooperação para se superar todas as adversidades.
Aos que sofreram de cegueira, o Estado decidiu encaminhá-los para uma quarentena, simplesmente porque eram "diferentes" dos outros; Bastante equiparável com alguns ditos "cidadãos" do século XXI - excludentes daqueles que não estão de acordo com os padrões estabelecidos pela própria sociedade em que estão inseridos tais sujeitos "diferentes", "anormais", "monstruosidades" e "doentes". A cegueira caracteriza então a negação das qualidades morais do sujeito, vindo a ser relevante apenas o que faz, o que veste e o que parece.
Conclusão:
não devemos apenas olhar aquele que está à nossa frente - aprendamos a percebê-lo antes de ajuizar sobre o mesmo.
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