quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

DayByDay (#4) - A espontaneidade das crianças

   Sou, deixarei de ser, lembrar-me-ei de ter sido...

   Ano Novo é sinal de convívio com a família. Não faltam o vinho, os doces, o leitão e outros pratos deliciosos neste almoço e jantar de dia 1 de janeiro - seja de que ano for. Ao contrário do Natal, em que à mesa apenas se encontrava uma bebé a alimentar-se, nesta passagem de ano subiu para dois o número de crianças assim como as suas idades. De 5 e 9 anos respetivamente, os meus primos foram a minha principal companhia no dia de hoje. 
    
   Acho interessante a capacidade e a força que as crianças têm quando efetivamente desejam alguma coisa. Elas fazem-me imenso questionar sobre a maneira como eu próprio ajo. Se por um lado as crianças são até capazes de fazer aquela birrinha desagradável para obterem algo que procuram, os adultos tantas vezes de acomodam e se remedeiam com o pesar de não terem coragem ou força para lutar. Surge-me então a questão... será mesmo a falta de força? Será tão somente a falta de coragem que nos prende em tantas decisões que tomamos? - coloco uma tentativa de resposta em forma de pergunta - Será que não temos somente a real vontade de lutar pelos nossos objetivos? - descubro nesta pergunta a resposta às questões anteriores. Tomara que estivesse a inferir ideias demagógicas e incógnitas para todos os outros que não eu, mas julgo que não esteja a acontecer. Todavia, não é propriamente sobre isto o que penso abordar neste DayByDay que tem sido um aglomerado de reflexões. 

   Já fui criança, tenho lembranças de ser criança, porém penso não ter deixado totalmente de o ser. Ficou o espírito. Apercebi-me hoje deste facto. Impressionante como ao contrário do que era habitual há 2 ou 3 anos atrás, hoje me interessei mais em passar a tarde com estes primos de 5 e 9 anos, nas suas brincadeiras do que quando eu mesmo me sentia criança. Julgo não ter vivido com esta intensidade a minha infância. Derivado de inseguranças? Sim, subscrevo mas avanço no assunto.

   Considero realmente mágico como em tão minuciosas ações ou coisas as crianças conseguem prender-se e lutar por melhorá-las. Impressiona-me ao ponto a que conseguem ser persistentes e insistentes. 

   Hoje, ao chegar a casa do meu tio cumprimentei os presentes. Apercebo-me que de bom grado me retribuiram o gesto, saudaram-me e disseram que o almoço estava em fase de preparação. No meio de todos os que cumprimentei, vi, vi com olhos de ver, um impacto bastante diferente causado pela minha chegada a um dos membros da família - ao meu primo de 9 anos. Senti que realmente sorria de contentamento pela minha chegada... talvez porque se dá bem comigo, talvez porque se sente sozinho no meio de todos os adultos com idades bem mais desfasadas da sua. Reconheci na forma como reagiu à minha saudação, ao ímpeto da sua corrida para me cumprimentar antes de todos os outros e talvez com isso obter atenção. Poderia ter sido algo banal ou até um ato que tantos acharão por norma um "habitué" de criança, mas este êxtase tocou-me profundamente. Decidi então passar uma tarde com as crianças e perceber como me sairia tendo em conta a minha impaciência, o meu stress e outros adjetivos sinónimos destes dois. Sou por norma explosivo quando me irritam! 

   Comecei por me sentar no meio dos dois rapazes. Nos meus tempos de criança, em almoços de família, também me sentava ou fazia por me sentar ao lado de primos com idades próximas da minha mas que não fossem crianças - o seu espírito mais jovial, a maneira como se pareciam adaptar e falar comigo era o suficiente para me sentir bem e confortável à mesa. Julgo que o mesmo terá acontecido, hoje, com os meus primos quando tomei a iniciativa de me sentar entre os dois. É neste ponto que começa a aventura de uma tarde de grande paciência mas de grandes aprendizagens. 

   Sugeri aos meus primos que fizessemos uma corrida Ultrasónica para ver quem comia o que tinha no prato em primeiro lugar... as crianças de hoje em dia são uns verdadeiros piriquitos sendo que ficam cheios com 2 ou 3 grãos de arroz - há que motiva-las a alimentarem-se mais e melhor. A azáfama instalou-se e os dois começaram a comer rápido para não perderem a competição. O sentimento de eventualmente poderem de alguma maneira ganhar a alguém mais velho do que eles em alguma coisa é suficiente para os motivar - neste caso a comer. O de 5 anos, incomodado pela a sua alimentação com os talheres estar a ser desvantajosa e de lhe dar uma eficácia no jogo bastante insuficiente para vencer aos seus adversários, despede-se dos talheres e avança com toda a coragem e convicção a comer com as mãos. As batatas assadas pareciam puré quando chegavam à sua boca. Fiquei a gargalhar por dentro enquanto os seus pais o chamavam à atenção. Nisso ele responde: mas eu só quero ganhar a "cuída supésónica" ao André (apontou e fez questão de me agarrar com vigor no braço enchendo-o com a maior quantidade de gordura que se possa imaginar) -foi o suficiente para deixar de gargalhar por dentro. Deu-me uma certa vontade de o esganar que logo me passou quando a minha mãe disse que conseguia tirar as nódoas muito facilmente. (Só eu sei quanto estes momentos são péssimos para a minha dermatite) (Risos). 

   Apercebo-me que já estou a escrever demasiado! Finda a competição, na qual esperei para perder e fingi uma enorme tristeza para especificamente o primo de 5 anos ficar muito contente com o seu desempenho, fui com ambos jogar playstation. Jogamos um daqueles jogos de desportos em que temos os comandos de movimento. Ri-me imenso a jogar ténis de mesa e jogar bócia. Achei bastante divertido e deu para aquecer um pouco do gelo que se fez sentir neste dia. Ganhei todos os jogos e o meu primo ficou algo triste, mas tudo lhe passou! O primo de 5 anos contentou-se com a observação do jogo. Posteriormente fui convidado a ver o Gru - O maldisposto - filme que já havia visto no cinema e realmente quis vê-lo. Todos o vimos até que o meu primo de 9 anos tem a fantástica e estrondosa ideia de abrir, em pleno quarto uma Barbearia com serviço de manicure e clínica médica - mas que capacidade criativa que este primo tem. Claro que a vítima fui eu... entre pernas partidas, pescoço torcido, tudo tinha tratamento na clínica. Na barbearia, tive de fazer supostamente um "serviço de beleza" seguido de "manicure" ... Fico até assustado com a forma como o meu primo me vê. Diverti-me imenso. Foi uma maneira engraçada de passar o tempo num lugar onde a Vodafone se mostra sempre com serviço SOS. Uma verdadeira tristeza. 

   Ao jantar, os meus primos riam-se... o de 5 anos já estava cansado e com cara de quem queria dormir. Já não sugeri a corrida supersónica com medo de que se estragasse outra peça de roupa ou que se piorasse o estado da atual. Penso que fui mesmo eu que acabei por comer menos. 
   Um dia com as crianças fez-me viver como elas recordando as minhas vivências - ainda que bastante diferentes quando era eu no lugar delas, à procura de companhia para desenvolver as minhas ideias. Seguindo o pensamento de Oscar Wilde: 

"A melhor maneira de tornar as crianças boas, é torná-las felizes."



Penso ter cumprido o pensamento supracitado tendo com ele aprendido. As crianças são bem mais do que aquilo que pensamos. Há que lhes elogiar para que sintam força e vontade de continuarem a criar novas ideias para que desta forma, quando chegarem a adultos, sintam fervorosamente a mesma vontade de agir. 

Sem comentários:

Enviar um comentário